domingo, março 11, 2012

Das prisões

- Pois, é aí que bate o ponto! Essa preocupação de não ser agarrado...
Abel interrompeu-o. A sua expressão de mau humor desaparecera. Estava agora interessado, quase exaltado:
- E Daí? Quer ver-me com um emprego fixo onde tenha que jazer toda a vida? Quer ver-me com uma mulher agarrada? Quer ver-me a fazer a vida de toda a gente?
- Não quero, nem deixo de querer. Se o meu querer tivesse alguma importância para si, o que eu queria é que sua preocupação de fugir a prisões não o levasse a ficar prisioneiro de si mesmo, do seu ceticismo...

José Saramado in "Claraboia"